Então, Dilma Roussef pegou o microfone, falando como candidata. “Queria dizer a todos vocês, a todas as mulheres, a todas as companheiras, que eu me sinto muito feliz de estar aqui, na tenda dos 50 anos da revolução cubana, que foi um acontecimento que teve um papel histórico na minha geração. Queria saudar minha companheira Ana Júlia. Não é fácil superar preconceitos. Por isso, você, Ana Júlia, você está abrindo o caminho para várias mulheres”.
Dilma falou das realizações do governo, como a Lei Maria da Penha, mas salientou logo em seguida: “estou aqui hoje para falar de uma posição, enquanto militante e enquanto mulher”. E se apresentou, como militante de esquerda, aos milhares de participantes que escutavam, em silêncio. “Minha militância coincide com o golpe de 64, quando começava uma trajetória, no Brasil, de intolerância, tortura, morte. Este é um processo muito importante, na história do país, porque os militantes que dele participaram saíram não apenas com todas as marcas, algumas físicas: saíram com a certeza da necessidade da construção de uma democracia e da participação.”
Esse registro autobiográfico veio com a confirmação de um reconhecimento que a atual Chefe da Casa Civil faz questão de registrar: “esse processo político é o de resistência de toda uma geração”. Ela lembrou dos valores “fundamentais que foram construídos naquela época”, para contar a história do contexto de suas escolhas, perante a ditadura que se seguiu ao golpe de 64. “Eu acredito que minha geração, naquele momento, foi afastada da política. Enquanto mulheres, enquanto homens, fomos obrigados a ir ao subterrâneo da vida política”. E mesmo na opacidade a que a expressão política da resistência foi jogada, registrou Dilma, alguns nomes de “grandes brasileiros” foram incorporados, como Sérgio Buarque de Hollanda, Mario Pedrosa, Florestan Fernandes e Celso Furtado, lembrou, sob aplausos.
Depois de analisar o processo de redemocratização brasileiro, ela registrou a autocrítica perante as escolhas pós AI-5, para afirmar, em seguida: “Todos aqueles que saíram da luta subterrânea, da clandestinidade, construiram esse momento luminoso da redemocratização. Mudaram, fizeram autocrítica, mas não mudaram de lado”.
Dilma então falou daquilo que compõe mais radicalmente sua trajetória como dirigente política e partidária, que é o debate sobre desenvolvimento econômico e combate à desigualdade. Atacou o “a experiência desastrosa do Consenso de Washington”, cuja ênfase no ajuste fiscal retirara a agenda, mesmo a concentradora de renda e poder, do desenvolvimento com crescimento econômico e diagnosticou o que considera a virtude do governo Lula: “Eu acredito que a grande virada do nosso país na história recente foi uma espécie de "decifrar a charada" do governo Lula. Assim como outros partidos que integram esse campo: nós sempre dissemos que não haveria crescimento econômico neste país sem os seus 190 milhões, incluídos”. Aí está a resolução da charada, segundo Dilma:“Tiramos a proibição da palavra desenvolvimento e colocamos esta palavra onde ela deve ser.”
“Temos um conjunto de propostas para a Amazônia”, falou em tom governamental, para lembrar do plano de chegar ao desmatamento zero em 2017, com base na regularização fundiária e numa política “consequente” de extrativismo de madeira. Mas defendeu que o fundamental hoje é “gerar empregos no Brasil”, para sustentar que inclusão não é suficiente, porque é preciso “o reconhecimento de direitos”, como o dos quilombolas e dos índios. Defendeu a reforma política, com financiamento público e listas fechadas para qualificar as relações institucionais entre partidos e sociedades e, finalmente, se despediu avaliando a grave crise financeira e moral por que passa o mundo:“Eu queria falar um pouco para vocês sobre uma questão que é crucial, hoje. Queria fazer uma reflexão sobre a crise que estamos atravessando. Esta crise não começou nos países pobres. Ela é uma crise dos países desenvolvidos. E ela tem uma característica muito forte da relação entre o setor produtivo e o setor financeiro, que não produz coisa alguma. Essa crise dos derivativos é também a crise de um pensamento que defendeu que o Estado devia ser curvar ao mercado, e que o mercado é perfeito e se autoregulava e que esse mercado dava conta de tudo, e que o estado seria de preferência, quanto menos, melhor. Pois eu quero dizer a vocês que o mercado tem de ser controlado, sim.”
A afirmação de Dilma ganhou uma ilustração expressiva no cenário internacional. Neste mesmo dia, um milhão e meio de franceses e francesas saíram às ruas do país para protestar contra o desemprego e o ataque do governo Sarkozy aos serviços públicos. Em várias partes do mundo, é o Estado que vem sendo convocado a resolver os problemas causados pelo modelo que teve em Davos um de seus principais centros de formulação e propaganda.
Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br/)
Extraído do blog de Salomão Gurgel.
2 comentários:
Sou militante petísta desde a década de 80, e fico muito feliz em ver a mulher encontrando seu espaço, como vc sineide q apesar de jovem ´tem consciência do q o nosso país precisa... vamos continuar pq o PT é raça!
Sou Ana CRistina / Patos pb
Eu também, sineide, quero Dilminha nossa presedente!!! E vamos mostrar que nós mulheres somos capazes!!!! Simone.
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